Estréia nesta quarta-feira nos Estados Unidos o filme A Paixão de Cristo, dirigido por Mel Gibson, que há semanas vem despertando polêmica no país, reacendendo as discussões seculares sobre o anti-semitismo por parte de cristãos.
De um lado, instituições de defesa da imagem dos judeus, como a organização não-governamental Liga Antidifamação, acusam o filme de colocar a culpa pela morte de Cristo exclusivamente nos judeus. Do outro lado, estão o próprio Gibson e grupos evangélicos que assistiram ao filme a convite do diretor.
"Vi o filme e posso dizer que os judeus são retratados como pessoas sedentas por sangue e gananciosas," disse o rabino Gary Bretton-Granatoor, porta-voz da Liga Antidifamação à BBC Brasil.
"Sempre que as cenas de violência contra Jesus terminam, a câmera mostra judeus que parecem estar se divertindo com o sofrimento dele. Apenas alguns poucos seguidores de Cristo e os romanos demonstram compaixão por Jesus."
Pecado original
Gibson, por sua vez, afirma que o filme não foi feito para atacar os judeus, mas para contar de maneira realista as últimas horas de Jesus.
Numa recente entrevista para lideranças religiosas, Gibson disse: "Esse filme culpa coletivamente a humanidade pela morte de Jesus."
"Sou o primeiro da fila da culpabilidade. Eu fiz aquilo. Cristo morreu por todos os homens de todas as épocas."
Respondendo a perguntas sobre seu suposto anti-semitismo, o diretor afirmou que existe um mantra sobre ele: "'Ele (Mel Gibson) é anti-semita'. 'Ele é anti-semita.' Eu não sou."
As principais lideranças protestantes americanas apóiam Gibson e seu filme.
"Assisti o filme à convite de Mel Gibson e ele é um retrato poderoso, convincente e fielmente histórico sobre as últimas 12 horas da vida de Jesus," disse o teólogo Robert Hodgson, reitor interino da Associação Bíblica Americana.
"O filme será um grande evento cultural e espiritual nos Estados Unidos."
Bilheteria
O filme é estrelado por Jim Caviezel no papel de Jesus e é falado em hebreu e aramaico, com legendas em inglês.
Nos Estados Unidos, A Paixão de Cristo não poderá ser assistido por menores desacompanhado de seus pais, em função das violentas cenas de tortura sofridas por Jesus.
Ainda assim, a previsão é que o filme, que exigiu um investimento de US$ 25 milhões por parte da produtora Icon, será um campeão de bilheteria no país.
Mesmo antes da estréia, dezenas de milhares de ingressos já foram vendidos.
De acordo com o jornal The New York Times, nos dois últimos meses o filme foi exibido gratuitamente a mais de dez mil líderes evangélicos de todo o país.
Mais de 30% da população americana é formada por evangélicos.
Grupos evangélicos, como o Teen Mania, afirmaram ao The New York Times que mais de três mil líderes religiosos compraram um kit com CD-Roms que ensinam como o filme pode ajudar a aprofundar a fé de jovens cristãos e também atrair outros jovens para a religião.
Guia
Gibson também exibiu o filme a líderes católicos, como o próprio papa João Paulo 2º.
De acordo com o diretor, depois da exibição o papa teria dito: "Foi assim que aconteceu."
Posteriormente, porém, o Vaticano negou que o papa tenha se pronunciado sobre A Paixão de Cristo.
A fim de evitar interpretações anti-semitas em encenações da paixão, a Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos deve relançar nesta semana o guia Critérios para Avaliação da Paixão de Jesus, originalmente publicado em 1988.
O guia segue os princípios adotados pela Igreja desde o Concílio Vaticano 2º, de 1965, que exime o povo judeu da culpa pela morte de Jesus.
No Brasil, o filme de Gibson tem lançamento previsto para o dia 26 de março.
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